segunda-feira, 23 de junho de 2014

The Moon song

É como se tudo começasse que nem um pequeno filme
Na primeira cena alguém se distrai com um pedaço de poeira voando pra fora da janela
O  reflexo do sol dá brilho e encanto à uma fotografia perfeita
Aí o mundo escancara 
Os olhos se perdem 
E tudo em volta sorri 
É como dobrar à direita sendo que o plano era seguir direto
e mesmo assim tudo continua muito bem
O chão se quebra lentamente
Você se dobra aos poucos
Mas só pra se acostumar
Como todas as noites tornam-se décadas
com o quarto escuro com um sinal de luz nas brechas
e como as mãos gelam com o próprio suor nesse tempinho que se faz
No final uma imagem surge
lá no fim dos pensamentos
E tudo
tudo mesmo
Tudo se torna tão absurdamente bom
Nada pesa 
Nada cai
Tudo permanece tão vivo e sutil  
Pensando bem
é como querer estar girando o mais rápido possível
sem ter medo de cair
como se estivesse tocando o fundo musical mais lindo que já existiu
e como se fosse possível pegar todas as fotografias tiradas da memória 
E aí de repente a música vai desacelerando 
o mundo cai
as flores murcham
as louças quebram 
e os olhos encharcam  
e tudo continua tão eterno
eternamente lento e sem graça
triste
clichê
e você nunca vai conseguir responder
Bom, eu nunca consegui
Se alguém me perguntar do que é que estou falando
nunca saberei dizer ao certo
Mas sei que soltarei as palavras mais confusas
enquanto perco meu olhar em qualquer coisa no chão
e enquanto vou congelando em meu pensamento
aí dou aquele suspiro
um sorriso distraído 
tentando lembrar algumas coisas
tentando lembrar como perdi



quarta-feira, 11 de junho de 2014

Meia

Eu poderia correr com teus pés
Deixar tuas pegadas marcarem meu chão
Eu poderia escrever um adeus nas tuas costas
Deixar os termos difíceis nos regularem
Minhas palavras se tornarem água esquecida num grotão 
Eu poderia perder meus dedos em teus ossos
Deixar os meus dias virarem noites ao teu lado
E perder todo o meu tempo em todos os amassos
Eu tornaria tudo mais simples como são teus contornos
Nos mataria todos os dias como tenho nascido em todos eles
Deixaríamos nos levar pelos embalos daquelas músicas que não sabemos a tradução
Batendo as canelas umas contra as outras sem sentir dor
Desenhando os números dos meses que inventamos 
Eu poderia esquecer as gotinhas que caíram no teu quarto
No teu colchão
E poderia muita coisa 
Mas você não


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Frente

Tenho medo
Aprendi a fugir
Aprendi a não me arrepender
Aprendi a falar
e principalmente: Aprendi a não ter
Alguns pedaços aqui, outros lá
Quando há medo há muito de mim
Quando há coragem há mais ainda
Sou do tipo que se joga
e quase sempre cai de cabeça
parto-me em mil corações
Sou do tipo que corre
e quase sempre sabe que nem mesmo razão
nem empurrões
nem joelhos dobrados hão de mudar
Espero, por vezes calada o dia dar tchau
Espero, por vezes
nem sei o que espero
Tudo começou sem nem mesmo terminar
Tudo começa
Tudo termina
Quem segurou nas mãos um pouco de si?
Quem?

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Despertador


Ao encostar a cabeça sobre o travesseiro
e ao deixar meu braços leves
Ao esticar minhas pernas em tua direção
e ao deixar a noite ir sem pressa
Quem sabe estamos em algum tipo de começo
Quem sabe estamos em alguma espécie de fim
Numa lista de atrasos eu escrevi onde não quero chegar
e num trago de um cigarro suguei minha própria destruição
Ao desprender alguns pedaços de papéis da parede
e ao planejar tudo outra vez
Ao conseguir me desatar aos poucos
e ao decorrer dos dias frágeis que me sustentam
Eu tenho conseguido me levantar cedo sem lamentar
e tenho segurado o peso dos meus lençóis 





quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sempre tenho o que quero rastejando entre linhas tortas
De vez em quando percebo que não vale a pena
Sempre espero a noite cair
ver no que vai dar
E aí marco os dedos em outro lugar
De nada adianta se nossas palavras não forem verdade
Eu escondo as que posso e jorro as que consigo
Sinto-me caindo
aos poucos mergulhando
aos poucos
me afogando
e no fundo não há nada além de mim
No fundo não há nada além de cinzas

feito água
assim, os dois
numa indecisão 
numa linha torta e inacabada

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Cicatriz

Descobri por meio do medo a vontade de ficar
Descobri em meio as minhas vontades os motivos pra não andar
Fruí de tantas insistências cada verbo teu
e aplaudi em meios as inexistências cada pedacinho do breu
Talvez o que não vejo tenha me livrado
As palmas das minhas mãos fracas
As marcas no meu rosto suado
Meus ombros relaxados que esperam algo cair
e todo esse chuvisco frouxo que molha tudo por aqui
Todo o colapso
o caos deixado
a maré alta regando meus passos
É tudo solução
talvez sim
talvez não
E eu não tenho fleuma para adular nada
nem ninguém
nem eu mesma
Vivo, sim
Mas também sou planta morta
talvez do amanhã
ou de ontem mesmo
E talvez nem exista talvez
Mas descobri por meio do talvez a vontade de sangrar
Descobri em meio ao meu jeito enferrujado a vontade 
de não parar
Descobri que o que quero mesmo
eu nunca soube explicar
Mas que diante do que não quero
sempre soube discretamente  arquejar





quarta-feira, 19 de março de 2014

Sal

As tardes de março tornaram-se confusas
Tantas voltas sem fim
Tanta coisa espalhada
Cinzas de cigarro no chão da sala
Você negando-se enxergar as cores do mundo
As tardes de março tornaram-se confusas
Tanta bagunça numa pessoa só
Tanta música aos meus ouvidos
Sentimentos virando pó
e você negando-se sentir os pingos de chuva
As tardes de março tornaram-se confusas
Cheias de sereno
Pernas firmes dançando
Corpos quentes flutuando
tudo amarelo
tudo em ti se encontrando
As tardes de março tornaram-se confusas
Aquarela formando caminhos explosivos
As tardes de março tornaram-se nossas
sem começo
 sem meio
muito menos fim
As tardes de março tornaram-se algo tão bom quanto aquela dose com gosto de flor
lembrei-me
Tornaram-se tão boas quanto aquelas doses de gim